COMO PRESERVAR SEU CASAMENTO...
Conselhos que dou a vocês
depois de 30 anos de casamento... Mas, isto vale só para as “moças”... Cuidado
lá, heim?
Este texto é de Ana Elisa
Ribeiro, colunista do http://www.digestivocultural.com/
e achei bem interessante:
Aconselhamentos
aos casais ― módulo I
“Trabalhei durante alguns
anos em uma editora e tínhamos lá um excelente acervo de revistas antigas.
Apesar do cheiro de papel velho e mofo que deixavam na sala, aquelas revistas
eram nossa diversão nas horas vagas, nas pesquisas iconográficas e nos momentos
de vagabundagem. A maior coleção era a de O Cruzeiro, especialmente os
números de 1935. Copiei e guardei muitas matérias dessa época e tiro proveito
delas até hoje.
E nesta onda de auto ajuda
que temos hoje, vale lembrar os conselhos da seção (e aqui preserva-se a grafia
original das palavras para nos atermos mais à importância dos conselhos)
"conselhos ao esposo" e os "conselhos à esposa" contidos no
número de 11 de maio de 1935, numa matéria intitulada "A difficil arte do
Matrimonio", assinada como "chronica", de Luiz Raymundo. Em
página dupla e ilustrada, o cronista (ou o narrador?) dá setenta conselhos à
"jovem esposa" (note-se que é “à moça”) para que ela aumente as
chances de "felicidade matrimonial", o peso fica sempre, ao menos nos
conselhos de Raymundo, do lado da mulher. Diz o cronista que os aconselhamentos
que se seguem não são "theoria". São retirados das "amargas
lições da vida quotidiana"... sabe-se lá com que esposa.
A "chronica"
começa com intertítulos que valem como máximas:
- A primeira logo despacha
que "o marido vê o vestido de sua
esposa, e, não, a alma". Assim fico mais tranquila. Se minha alma for
horrorosa, visto nela uma bem-talhada blusinha e pronto, meu querido nem
perceberá. Acho que, afinal, é assim que age muita gente sábia. Aconselha o
cronista que eu "mude de vestido diariamente, se possível", porque
nenhum marido merece ver a sua senhora com roupa repetida. Note-se, no entanto,
o "se possível", que resguarda qualquer eventual falta de um bom
guarda-roupa. Raymundo alerta que pequenas mudanças fazem já diferença: uma
"golla nova, uma gravata, um collar"; e alerta: "nunca appareça
a seu marido com um vestido que não ousaria exibir ás visitas". Foi neste
ponto que me ferrei de vez. Meu Deus, aquele chinelinho de dedo, nunca mais!
Vai ver que é isso o que causa tanto espanto nele. Minhas calças de ginástica,
minha bermudinha desfiada (feita de calça velha cortada), minhas blusinhas de
R$ 9,90. Assim não pode!
- Outro conselho de Luiz
Raymundo: o marido não pode me ver de
"rosto untado de creme ou com o nariz brilhante", nem de meias, a
não ser que a costura esteja sempre "bem collocada" e bem puxada.
Também não se pode escovar os dentes diante do cônjuge ou usar "chinellas
sem salto". É preciso estar sempre "arranjada e 'coquette’, tanto faz
se na hora do café ou noutra.
Fico pensando em minhas
tantas falhas. Escovar os dentes é um problema, jamais me incomodei de cuspir
na frente do meu marido, e o cabelo despenteado é quase uma instituição em
minha família. Para mim isto sempre foi normal: Lavar e secar ao vento, de
preferência sem se mostrar ao pente. A minha gene de cabelos pretos e
cacheados, herança de papai, não aconselha arrumação que não seja com os dedos.
Se bem que minha mãe não andava pela casa com a cabeleira desfiada. Muito ao
contrário: estava sempre bem arrumada, com um arquinho, no mínimo. Diz Raymundo
que "mulher despenteada provoca aversão do homem". Além disso, pede ele
que a esposa seja sempre amável, ordem que finaliza a seção.
- No próximo intertítulo, já
se pode imaginar o que vem: "Se a
palavra é de prata o silêncio é de ouro". Alguém tem dúvida de que os
conselhos serão dados às moças? "Não fale com seu marido senão quando elle
terminar de barbear-se ou escovar os dentes". Nada sobre se ele os escova
na minha frente, nada sobre se ele deixa a barba na pia para eu limpar. Apenas
que eu espere que ele queira ouvir minha voz. "Para o homem, o vestir-se e
barbear-se é como a celebração de um rito que a mulher não deve
interromper". Relaxei depois dessa. Nem todo homem tem essas preocupações
de vestir-se como um cavalheiro ou de barbear-se bem para poupar a mulher dos
pinicamentos do toque de uma barba malfeita.
- Depois da manhã de
silêncio, pede o cronista que a esposa: ponha a mesa do café de "maneira que o marido sente-se a ella com
prazer", coloque o cinzeiro ao lado dos talheres e deixe-o ler o
jornal em paz (sem interrupções). Quando fica aberta a temporada de falar
(sempre pelo esposo), é preciso atentar para o fato de que a moça nunca tem
razão nos assuntos: "de quando em vez procure provar-lhe que você estava
sem razão". Assim pode ser que ele fique com a auto estima bem conservada.
Além disso, é preciso equilibrar as coisas: "se seu esposo tem algum
habito ou preferencia especial, procure satisfaze-lo sem insinuar que você
assim procede por fazer-lhe a vontade". Ou seja: mesmo quando se pode
conversar, é melhor adivinhar e não se deixar notar. "Não fale em demasia
dos amigos delle, mas também não os esqueça", sutileza que ainda preciso
aprender a fazer...
- Na seção "Aprenda a cozinhar", o que minha
avó tentou me dizer e não conseguiu: "Não diga que só cozinha para elle e
sim para ambos", que é um jeito mais conformado de não assumir a
cozinheira que existe em mim. Ao mesmo tempo, Raymundo sugere: "Não
prepare muito amiudadamente seus pratos favoritos", referindo-se aos dele,
claro, já que não se pode enjoar o marido oferecendo sempre as mesmas
comidinhas. Atualize-se, mulher, e lembre-se: "Não ande de chinellas, nem
mesmo na cozinha". É só se lembrar das mulheres casadas de propaganda de
margarina e seguir o modelo. A publicidade se utiliza destes manuais da década
de 1930 até hoje. Não deve ser à-toa.
- Mais uma seção e mais
conselhos. "O bom humor da esposa é
um repouso para o marido". O que é uma esposa sem bom humor, não é
mesmo? Ele quase não lhe dá motivos e você não faz outra coisa na vida, certo?
Diz Luiz Raymundo que eu não me queixe nunca, de nada, que isso aborrece demais
os homens. Pede o cronista que eu dê festas em casa apenas para marido e
mulher, festinha privê, que é pra animar o moço. Não me pode faltar alegria,
"seja sempre vinte e cinco por cento mais alegre do que dispõe de motivo
para o ser", cálculo fácil de fazer e difícil de acertar, mas é preciso
tentar. Raymundo me diz que dê presentes ao esposo, seja sempre moderada,
discreta, não ultrapasse os limites quando me sentir atraída por discussões.
- Mais adiante, diz o
cronista que "o homem pode
tornar-se grosseiro e áspero; a mulher, não, pois isso a diminui em todos os
sentidos". Admito: nem sempre consigo ser macia e gentil, mas vou
tentar. Não se pode, igualmente, fazer cenas de ciúme, dizer de quantos
"sacrifícios" fiz por ele e ficar doente. Assim reza a crônica:
"trate de ficar doente o menos possível". Pode deixar, doutor, vou me
controlar, afinal, preciso estar sempre bem para cuidar dos eventuais achaques
dele.
- Melhores ainda são os
conselhos sobre a vida social do casal. Raymundo afirma que cada um precisa ter
seu dia de "mania", dia de sair só, de respirar. Ao menos uma vez por semana, o esposo deve "sentir-se como
solteiro". E não se pode perguntar aonde ele foi ou o que andou
fazendo. Diz o cronista que, se quiser, o marido chegará contando as
experiências. E se houver qualquer deslize, que a esposa não se ressinta, nem
cobre, nem se vingue. Isso é normal nos homens, não nelas. Não se pode sequer
dar a entender ao marido que eu sinto ciúmes, coisa mais feia! E caso eu note
que o homem está atraído por outra mulher, deixe estar, aproveito para reparar
nela. "Observe, antes, o que é que elle nellas admira. Na maioria dos
casos, são as qualidades que você não possue". Trate-se, então, de
possuir. E ainda: "Chame a attenção
delle para as virtudes das outras mulheres. Com isso, elle apreciará em você o
senso de imparcialidade".
- A profissão e o tempo do marido são sagrados. Quando ele voltar à
noite para casa, diz o manual, é preciso demonstrar que eu o estava esperando
com impaciência. Preciso deixar tudo arrumado, inclusive eu, a mesa posta, o
cinzeiro perto dos talheres e buscar o chinelo dele com o focinho. Não, não,
misturei os manuais. Não é bem isso, excluam aí a última parte. Só devo
telefonar (especialmente para mãe e amigas) quando ele não estiver em casa,
óbvio, porque depois que ele chega, minha atenção é exclusiva. Devo me adiantar
ao me arrumar para sair, assim não o deixo esperando; se ele já estiver a
postos para sair, não vá eu encher a paciência com pequenas coisas, do tipo dar
bitoquinhas nos filhos, procurar bolsa, instruir a faxineira ou procurar as
chaves. Ou isso tudo estava feito ou babau. Ele certamente não o fará.
- Quando o marido, enfim,
chegar do trabalho, não devo contar nada de aborrecimentos bestas para ele, um
papo fútil e inútil, com o qual ele não ganhará nada. Ele, enfim, não quer
ouvir minha voz nem de manhã cedo nem mais à tardinha. Ele quer mesmo é jantar
e descansar. E se quiser sair? Não devo ter ideias sozinha. É preciso
consultá-lo antes. Não devo nem aceitar sem propor nada antes que ele examine o
assunto.
- Mas a esposa não fica
totalmente desamparada nos conselhos de Raymundo. Ela também tem seu espaço,
além daquele de se dedicar ao marido. Repare-se que os filhos quase não são
citados, em um modelo de família bem diverso deste nosso mais atual, o
"filharcado". A mulher também merece alguma dedicação. Afinal, na
página 33, estão lá os conselhos ao rapaz, que só virão na próxima coluna.
Portanto, queridas amigas,
não percam a oportunidade de ter um matrimônio feliz, de acordo com os
aconselhamentos colhidos de um manual da década de 1930, mas, provavelmente
ainda bastante atuais.”
É pra rir ou pra chorar??
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