As deusas do destino


Quem leu o título acima deve estar se perguntando: Mas, o que é que uma catequista católica que dizer com "deusas"?? 

Não, não mudei minhas crenças e concepções não... Já explico!

E vou justificar dizendo que acredito que o "saber" não é uma coisa que nos prende, muito pelo contrário, nos dá asas e liberdade para aprender e "desprender" aquilo que nossa mente e nosso espírito  precisa e anseia.

Mas, vamos a história das "deusas"...

Vocês já ouviram a expressão “analfabeto de pai e mãe”? Pois é. Posso dizer que essa expressão permeou a minha infância. Meus pais eram analfabetos e acredito que seus pais também eram. Minha mãe aprendeu a ler depois de adulta. Eu me lembro dela freqüentando as aulas do antigo MOBRAL, um programa de alfabetização de adultos lançado pelo governo. Quanto ao meu pai, lembro que ele fazia contas melhor do que ninguém. E calculava metros cúbicos! Mas não sabia escrever...

Eles tiveram dez filhos e fizeram questão de que todos estudassem. Na escola pública, mas, proporcionaram. E logo que aprendi a ler eu encontrei um tesouro em minha casa. Uma ENCICLOPÉDIA! Ela tinha dez volumes e era organizada em forma de documentário. Chama-se TRÓPICO. Vocês podem imaginar o que é uma família pobre, as voltas em colocar comida na mesa pra dez filhos, ter uma enciclopédia? E grande parte da minha educação global, eu devo a ela.

Eu adorava aquela enciclopédia. Li tudo, os dez volumes. Principalmente porque tinha uma parte dedicada a Mitologia e Lendas. Foi ali que aprendi a gostar de mitologia grega e romana e das diversas lendas de todos os povos. É gente... Perseu, o anel dos Nibelungos, Tróia, o Minotauro, as Valkírias, a Medusa, os deuses do Olimpo... fizeram parte da minha infância!

Porque lembrei disso? Além de ter, recentemente, me lançado num embate com na internet sobre a Medusa, li um texto no blog da Edite que me trouxe algumas lembranças sobre mitologia. Ao ver Edite se debater entre o destino e as escolhas que fazemos, lembrei então da história das Moiras ou Parcas. As velhas senhoras que controlam o destino dos seres humanos na mitologia greco-romana.

As questões que a Edite levantou, sobre as "escolhas" que as pessoas fazem; se coisas boas ou ruins acontecem por “destino” ou porque assim decidimos; se nós construímos e moldamos nossas vidas ou tudo está predeterminado; são coisas que há muito o ser humano se pergunta. O que se pode depreender do “livre arbítrio” é que somos responsáveis por aquilo que nos acontece. Entretanto, existem inúmeros fatos que não corroboram essas afirmativas. Desde o nascimento até a morte, que são os dois principais pontos de nossa “não escolha”, vivenciamos situações que independem de nossa vontade, tais como: poder ter ou não filhos, que estes nasçam sadios, sofrer ou não de determinadas doenças de ordem genética, etc. E, isso é o que chamamos destino ou fatalidade.

E na Grécia antiga isso era representado pelas três deusas Moiras (ou Parcas): Cloto, a fiandeira, representa a que tece a teia da vida; Láchesis, a que distribui a parte que cabe a cada alma; e Átropos, a que cortava o fio da vida. Existia ainda uma crença de que a pessoa poderia atrair para si uma outra fatalidade em função do pecado, ou seja, a fatalidade era uma conseqüência do pecado e era uma sina que podia ser evitada.

Então, pode-se dizer que a fatalidade ou sina determinada pelas Moiras é uma predestinação que só pode ser enfrentada, mas não evitada. Não é determinada por boas ou más ações do sujeito ou de seus pais; não está ligada a uma vida com ou sem pecado. Já a sina atraída pelos pecados, sim. Esta pode ser evitada.

Enfrentar a sina exige e desenvolve o caráter (do grego, xaracter que significa ser alguém definido), ou seja, determinados princípios a que se permanece fiel independente de confrontações. E este é o caminho para nos realizarmos como indivíduos únicos. Sendo a fatalidade inevitável, o mesmo não se pode dizer do destino pois este pode ou não ser cumprido, sendo determinado pela maneira que enfrentamos as fatalidades e fazemos nossas escolhas (caráter).


Na mitologia romana, onde as deusas se chamam Parcas (originalmente, Parca significava "parte" - de vida, de felicidade, de infortúnio), cada ser humano possuía a sua Parca. Aos poucos, desenvolveu-se a idéia de uma Parca universal, dominando o destino de todos os homens. E, finalmente, passou-se a conceber três Parcas. Filhas de Júpiter e Têmis, ou, segundo outra versão, da Noite, personificavam o Destino, poder incontrolável que regula a sorte de todos os homens, do nascimento até a morte.

Cloto, Láquesis e Átropos, como deusas do Destino, presidiam os três momentos culminantes da vida humana: o nascimento, o matrimônio e a morte. Retratadas na arte e na poesia como mulheres velhas e severas, ou como virgens sombrias, as deusas eram temidas até mesmo pelos outros deuses que não podiam transgredir suas leis, sem por em perigo a ordem do mundo.

Às vezes penso que nossa vida, ou nosso “destino” mesmo, é realmente tecido como um grande fio. Minhas crenças religiosas, claro, não me permitem levar em conta a mitologia. No entanto, comungo da sabedoria dos gregos antigos. Temos sim, uma “sina”, um destino que não nos é permitido mudar. Nosso “fio” é tecido por Deus quando do nosso nascimento. E ao longo da nossa vida tomamos decisões baseadas em nossa vontade que pode mudar totalmente o “desenrolar” deste fio. E sim, moldamos nosso caráter pela maneira como enfrentamos as “fatalidades” imutáveis que nos acontecem. Está determinado que um dia nosso fio será “cortado”. Quando? Não nos é dado o conhecimento... Pois poderíamos com isso, realmente, por em perigo a ordem do universo.


Angela Rocha

Comentários

  1. Nossa,Angela nossas vidas são tão parecidas eu também tive livros que meu pai trazia das construções ,livros que acham em lixos.Poemas, histórias e mais histórias que faziam sonhar...obrigada amiga viajei com você.

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