A receita da felicidade... Parte II



Senta aí que vou te dar mais uma receita:

 
 “O que mais se comentou foi a falta de espaço para que as crianças participem na Liturgia, elas não podem fazer nada, não podem nada. Tem Missa da “Catequese”¨, mas só de nome. É muito triste!!! O nosso Padre até libera para a leitura, mas fica exigindo perfeição, jalecos para os leitores, etc. Fico lembrando de quando morava em São Paulo e tínhamos a Missa das Crianças, com tudo voltado pra elas, e o Padre já dizia aos adultos: Esta é Missa das crianças, vou falar pra elas...”.
Eu disse, ontem na reunião, que o meu sonho ainda é trabalhar junto com a Pastoral Familiar, e termos Missa para as Crianças. Porque percebemos que a maioria não freqüenta a  Missa, nem suas famílias. Tristeza total.
Infelizmente, o que sinto, com dor no coração, é que precisamos de um Padre que valorize as crianças, que saiba “falar” com elas, que não supervalorize a aparência nas vestes, mas o conteúdo da leitura, a participação dos pequenos... Que irão crescer, e que se espera, não abandonem a Igreja. Rezar pelas vocações sacerdotais, a gente até reza. Mas, e o exemplo do Padre na acolhida para que haja futuros candidatos?”

Este é um depoimento que até, não nos causa muito espanto. Já “ouvi” inúmeros deles. Só nos causa dor e tristeza. Por percebemos que aquele que deveria ser no nosso pastor, o condutor e guardião do redil, pouca importância dá às suas ovelhinhas. O que percebemos é que existem ainda paróquias e santuários onde as celebrações e ritos são bem mais formais. Os ritos litúrgicos são encarados com seriedade tal que, é impossível admitir crianças nele. Isso porque a ludicidade é uma característica da infância. Crianças vão querer brincar e rir sempre, não importa muito onde estão. Daí a “implicância” de alguns liturgistas e padres.

Então, como vamos “ensinar” que a liturgia é parte integrante da fé? Na verdade, ensinamos PARA ela! A essência da fé cristã na Igreja  Católica é a própria Celebração Eucarística. O problema talvez seja aquele de sempre: Estamos focando crianças quando deveríamos estar com o foco nos adultos. E focamos as crianças como se elas fossem adultas...

Agora, se formos, de fato, levar “ao pé da letra” os ritos litúrgicos, a própria Missa enfim, temos que concordar que ela não é para criança! As celebrações cristãs foram pensadas para adultos. A sua estrutura, formalidade,  os seus sinais, a linguagem dos textos e todo seu desenvolvimento, não são fáceis de compreender pelas crianças (até alguns adultos tem dificuldades). E isso compromete o caráter pedagógico que é pertinente à celebração, e ela perde sua força sobre as crianças. Mas a psicologia moderna sustenta que não é a inteligência a chave primordial que te aproxima das coisas e valores. Assim como todas as experiências, a  religiosa, é marcante na infância.

Para isso é preciso buscar a “receita”. O ingrediente para que nosso bolo não saia “batumado”. Fermento! Muitos dirão. É isso mesmo, a gente precisa por fermento na massa. Por fé nos corações para que nosso bolo chamado Igreja, só venha a crescer. E se temos que começar com as crianças, comecemos!

A Liturgia PRECISA fazer parte da catequese. Ela é condição para se criar um cristão de fato! Precisamos “ensinar” Liturgia na catequese. E a gente pode encontrar muita coisa na celebração eucarística para se valorizar no processo de ensino da fé. A começar pelo saber fazer (celebrar) em comum com os outros: a saudação ao outro, a acolhida, a capacidade de escutar, a atitude de dar e receber o perdão, a atitude de expressar o agradecimento, a linguagem dos símbolos (quando bem explicados na catequese), o comer fraternalmente com os outros, a experiência da celebração festiva, etc.  (DGC - n.º 25).  Claro que a Eucaristia é mais do que isto, é a Celebração do Mistério de Cristo. Mas, a linguagem com que as crianças vão celebrar e participar plenamente estão implícitos na sua capacidade de “aprender”. Não se pode assim, ignorar os valores antropológicos, pedagógicos e litúrgicos contidos na celebração.

E é nesse contexto, que a Liturgia da Missa com Crianças, usando a Psicologia e a Pedagogia, caminha para uma celebração mais virtuosa e mistagógica. É a partir do que a Igreja reza e celebra que se conhece e se desenvolve a sua fé. Quem fala da “Eucaristia” é a própria Eucaristia. Em seu mistério ela é a fonte de sua compreensão.

Difícil entender isso, não? Mas, é o “mistério da fé”, que só será vivido plenamente na maturidade de cada um. E aqui cabe um alerta: Não é preciso inventar coisas de fora para dentro, correndo o gravíssimo perigo de fazer um “show” a cada celebração, que precisa ser sempre diferente e acaba perdendo o foco essencial, que é o rito da memória da morte e ressurreição de Cristo. E muito menos dar “aula” na missa, explicando com comentários, tudo que acontece. Se um símbolo precisa ser explicado, então ele não “simboliza” nada!

Há algum tempo atrás, mais especificamente em 1977, há mais de três décadas, portanto, a CNBB publicou um documento chamado Diretório Para Missa Com Grupos Populares, que tinha em seu anexo o DIRETÓRIO PARA MISSA COM CRIANÇAS, aprovado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino em 01 de novembro de 1973.

Vou falar um pouco dele num texto a parte e publicá-lo aqui nos grupos do Facebook.

Mas por enquanto, atendo-nos aqui ao nosso “problema” e a “receita” para sua cura, vamos ao que proponho.

Primeiro uma leitura bem atenta ao Diretório para Missa com Crianças. Na verdade, um estudo com o grupo de catequistas. Tem também um texto publicado na Diocese de Porto, em Portugal, que é bastante elucidativo sobre a Missa com Crianças. Estou adaptando para o nosso português “brasileiro”, para que vocês possam partilhar com seu grupo. Também será publicado nos grupos.

Depois... E olha que esse depois é muito importante! Uma proposta de Missa com Crianças deve ser levada ao pároco. Mas, uma proposta “decente”! Embasada naquilo que a Congregação para o Culto Divino permite. E que vocês verão que não é pouco.

É possível sim, tornar a missa atrativa para as crianças, sem exageros e show de palhaços. Dá trabalho? É óbvio que dá! Então, se você não quer ter trabalho, conforme-se com as coisas como elas são e veja carinhas “emburradas” todos os domingos na missa como “normal”.

E sabe de uma outra coisa? Estamos acostumados a ver os padres, mais especificamente o pároco, como o “Senhor todo poderoso”. E isso é uma coisa que eles não são. A eles cabe conduzir o povo de Deus. E isso não é tarefa fácil para um simples mortal, por maior que seja sua vocação. E por mais “intocáveis” e “inatingíveis” que eles pareçam, ás vezes, eles só precisam de colaboração. E sabe qual é o medo deles? Principalmente daqueles que se dedicam mais a Liturgia? Que a gente faça da missa uma “palhaçada”, um “show”, um “teatro” para entreter a criançada. Porque isso é feito em muito lugar que eu sei...

Então vamos lá! Vamos conversar com nossa equipe sobre a Missa da Catequese. Vamos criar uma proposta, onde se trabalhe os aspectos pedagógicos da celebração e ao mesmo tempo não se esqueça o lado mistagógico dela. Vamos levar esta proposta ao pároco. Melhor ainda se o padre puder participar dessa discussão... Levante as questões da falta de interesse dos catequizandos e de suas famílias. Crie alternativas de espaço e horário... Mas dê preferência à missa junto da comunidade paroquial. É melhor para o padre e para a comunidade.

Mas lembre que existem vários aspectos a se considerar na missa com crianças.

Não é porque é com criança que as leituras não precisam ser bem feitas; coloque no cotidiano da catequese o treinamento de  leitores. Existem músicas próprias para as missas com crianças; pense em um coral infantil na paróquia, alie-se ao ministério de música.  Pense em encenações do Evangelho, sem grandes “produções” e exageros; as crianças gostam desse “agito” (principalmente as menores). Pense numa acolhida feita pelas crianças, com cartõezinhos confeccionados por elas mesmas. Use as crianças para fazer o ofertório, a entrada da Bíblia, as preces dos fiéis. Mas sempre com critérios, com ensaios, com preparação. Nada de “oba-oba”  e  “o Espírito Santo guiará”. Seriedade na coisa! Garanto que o padre vai gostar da idéia.

E uma coisa delicada. Pode ser que o nosso padre não tenha “jeito” para falar com as crianças. Acontece. O Diretório de Missa com Crianças permite que leigos bem preparados façam monições e a homilia, e que se use recursos de mídia também para a compreensão das leituras. Use desse critério, mas sugira de “mansinho”, sutilmente...

Novamente a receita é: CONVERSA! Precisamos de diálogo na nossa Igreja. A catequese nunca vai caminhar sozinha, alheia às outras pastorais, sem apoio do pároco e demais padres.

Ah, vocês não tem esse “poder”? Mulheres e homens de pouca fé! Vocês, como mais ninguém na nossa Igreja, exercem o mandato profético instituído pelo nosso batismo. Façam jus a ele!

Ângela Rocha

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