REFLEXÃO: Semear e colher...
E por falar em reunião de pais, semear e
colher...
“Mais uma reunião de pais dos
catequizandos de primeira Eucaristia e mais uma decepção. Cadê os pais? Será
que nossas crianças foram fabricadas em laboratório? Será que são órfãs e
sozinhas neste mundo, respondem por si mesmas? Não basta apenas colocar a
criança na catequese; é preciso acompanhar, celebrar junto. Imagine se o
catequista não comparece aos encontros, marca algum encontro com pais e não
comparece, não avisa, todo mundo cai na pele. Por que então os pais não assumem
o compromisso cristão de comparecer ao menos às reuniões preparatórias para a
celebração do sacramento? No dia da missa da Crisma ou Primeira Comunhão estão
lá, faltam derrubar o padre e os catequistas para tentar tirar foto do filho.
Se a gente não permite: a,i ai, tenho que registrar esse momento. Fica aqui a
minha indignação pelos pais ausentes. Mas é preciso valorizar aqueles que estão
presentes em todas as ocasiões, que celebram juntos, que aparecem mesmo sem ser
convidados só porque se preocupam, só porque se interessam por tudo que diz
respeito aos filhos. Esses sim, são merecedores do nosso mais profundo
respeito.”
Não
sei bem quantos desabafos assim, ou parecidos, eu já li em minha vida de
catequista. Só sei que, este assunto, bem como as queixas de modo geral, não
mudam. E as soluções também parecem não
divergir:
“Precisamos
evangelizar as famílias. Elas estão perdendo a noção do sagrado, da importância
de Deus na vida da família.”
“Jesus
catequizava os adultos e acolhia as crianças... nós estamos no caminho
inverso.”
“Essa situação é muito parecida com muitas
realidades que conhecemos, mas acho que o mais importante nós Catequistas
fizemos, levamos Jesus para nossas crianças, e com certeza plantamos a
sementinha...”
Sim, é isso: precisamos evangelizar a família! Afinal
de contas, ela é a PRIMEIRA CATEQUISTA DA CRIANÇA. E por que, afinal, a família
não “catequiza” os filhos? Será que estes pais não freqüentaram a catequese
algum dia na vida? E, se freqüentaram, que catequese foi essa? Pra mim isso só
diz uma coisa: nosso fracasso não é coisa de hoje! A gente vem fazendo o
“inverso” faz muito tempo. Nossa catequese é total e completamente ineficaz. Os
pais de hoje não eram os filhos de ontem? Não tem gente aí que é catequista há
trinta anos? Isso significa que já catequizaram muitas gerações... Cadê esses
evangelizados?
E não estou dizendo que os catequistas de antigamente
não sabiam evangelizar. Vou dizer uma coisa a nosso respeito, catequistas de
hoje: nossos catequizandos atuais, serão os pais e avós dos catequizandos das
nossas filhas e netas catequistas. Que vão reclamar da mesma coisa daqui a
trinta anos ou quarenta anos... Com uma só diferença: serão bem menos os
católicos e bem mais os sem-religião ou multi-religião.
E esse é um fenômeno comprovado pelo último SENSO, não
sou eu que estou inventando. A religião católica no Brasil, bem como o judaísmo
aí pelo mundo afora, é mais uma questão de inculturação do que propriamente de
religião. Essa é a explicação para o “atropelo” na hora das fotos. Ai do
católico(a) que não tiver uma foto vestida de branco ou de “terninho” para
comprovar que fez devidamente a “primeira (e muitas vezes última) comunhão”.
Mas novas culturas vão surgindo... E a sociedade vai se adaptando. E o que
podia ser considerado quase 100% há cem anos atrás, se transformou em pouco
mais de 60% . E está ficando cada vez mais normal ser católico, ir ao culto
evangélico, frequentar centro espírita e jogar umas flores pra Iemanjá de vez
em quando...
Eu estive na catequese há trinta e cinco anos atrás. E
posso dizer que ela foi uma flagrante porcaria. Não me lembro de absolutamente
nada dela, exceto que a catequista que eu adorava me foi “roubada”. Isso porque
a turma era imensa e foi preciso reparti-la. E ninguém me perguntou se eu
queria mudar. Mas, como eu era da turma dos “pobres”, a quem não cabe opinar em
nada, lá fui eu pra outra turma. Estava na turma errada. Sim, as turmas do meu
tempo eram separadas por “ricos” e “pobres”. Era feito uma espécie de “arrastão”
nas escolas, nas 3ª séries do primário (ano que as crianças completam nove
anos) e a catequese era dada ali mesmo, depois do período de aula por cerca de
seis meses... Como não me lembro de um encontro sequer, acho que nem isso. Só
pra reforçar, não sou tão velha assim, isso foi em 1975. O Concílio Vaticano
II já tinha 10 anos.
Se sou religiosa hoje e catequista, devo isso a fé que
me foi incutida pela minha mãe e pelas provações da vida. Claro, tive
orientação dos meus pais, valores, aprendi a rezar assim que aprendi a falar; mas
não lembro de ter ido á missa com eles mais do que umas três vezes na vida. E,
infelizmente, é assim que se faz um católico na maioria das vezes... Se ele se
tornar um bom fiel e freqüentar a Igreja até o fim da vida, aleluia!
Agora vamos à história das tais “sementinhas”... Penso
que deveríamos ler com mais atenção a Parábola do Semeador. E já que estamos relembrando o Evangelista
Marcos neste mês da Bíblia, vamos citá-lo:
“Eis que o semeador saiu a semear; e aconteceu que, quando semeava, uma parte da
semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra caiu no
solo pedregoso, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha
terra profunda; mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz,
secou-se. E outra caiu entre espinhos; e cresceram os espinhos, e a sufocaram;
e não deu fruto. Mas outras caíram em boa terra e, vingando e crescendo, davam
fruto; e um grão produzia trinta, outro sessenta, e outro cem. E disse-lhes;
Quem tem ouvida para ouvir, ouça.” (Mc 4, 3-8).
Penso
novamente que se estivéssemos nós na presença de Jesus, também lhe diríamos: Senhor, por que fala por parábolas? Não
entendi nada... E novamente Jesus nos explicaria aquilo que qualquer
semeador deveria saber: não se planta a beira de um caminho onde não se volta
mais, não se planta nas pedras e nem entre espinhos. Não se quiser colher
alguma coisa. A semente vai crescer um pouco, mas vai morrer. O solo precisa
estar fértil e preparado e a semente precisa ser cuidada para dar trinta, sessenta, cem por um. Trocando em miúdos, é a catequese com base
familiar e a catequese permanente. É a catequese para quem tem maturidade e
capacidade de escolha.
Mas
nós, semeadores compulsivos, continuamos a semear por atacado... Sem se
incomodar se a terra é boa ou não. É
lindo dizer que tenho 30 catequizandos. Que maravilha! Mas só uma meia dúzia
sabe do que estou falando... Mas aí vem a pergunta: não devemos semear mesmo em
todo lugar? Alguma semente deve vingar. Com muito estresse e perseverança, até
vingam... Mas a que custo!
Finalizando
minha analogia, nossos pais são sementes perdidas. Quiçá nossas crianças não as
sejam. Mas os prognósticos não são bons. Pedras, espinhos e falta de
preocupação onde se joga a semente; continuam a ser uma prática constante na
catequese. Deveríamos, creio, passar a ser mais “preparadores de solo” do que
propriamente “semeadores”.
Se
queremos “semear”, alguém tem que vir antes de nós, preparando o solo, tirando
as pedras, arrancando os espinhos. Isso não está acontecendo. E também não se
semeia e esquece o “cuidado”. Então, ainda vamos chorar muito por ver nossas
plantações devastadas pelo nosso próprio descaso.
Ângela
Rocha
angprr@uol.com.br
Angela, senti sua angústia e desânimo. Como vc eu tb gostaria que tudo fosse diferente. Mas nem tudo é perfeito e acredito que dificilmente será um dia. Infelizmente hoje nós catequistas precisamos fazer o papela da família que se comporta cada vez mais ausente. Se não cuidarmos de semear, quem o fará? A família? Já está comprovado que deixa muito a desejar. A escola? nossas escolas hj não não nenhum modelo de obediência e bons comportamentos. Catequizar ali? O mundo? esse só desvia nossas crianças. Não acho que estamos lançando a semente em terreno errado. Estamos sim semeando aleatoriamente e torcendo para que alguma semente vingue . E se isso acontecer, como vc disse ,com muito custo, aos frutos serão tão bons que provavelmente outros virão.
ResponderExcluirEu tenho apenas 6 catequizandas. E confesso que tem dias que fica difícil prender a atenção delas. Mas eu vou semeando observando como posso fazer para trazer assuntos, catequéticos é claro, que as atraiam.Quem sabe algo fique grqvado em seus coraçõezinhos.
Edite... sobre semear em lugar errado...
ExcluirA questão não é bem "semear", estamos precisando "preparar o solo antes". Por que nossas crianças estão desatentas e sem interesse? Porque este não é o "lugar" em que elas gostariam de estar... O que dizemos não faz parte do mundo delas. E elas estão ali por não ter escolha. Não há evangelização que funcione sem "anúncio" prévio. Para que a Palavra seja ouvida e "bebida" é preciso que se tenha sede dela. Quem anunciou Jesus a estas crianças? E a Igreja vem nos alertando que a catequese, a evangelização, precisa voltar a ser com ADULTOS! Pouco se conquista evangelizando crianças que não encontram respaldo nenhum de fé em suas vivências diárias, que não tem maturidade para entender a fé e nem escolha para estar ou não na catequese. A maioria é obrigada pelos pais que veem a catequese exclusivamente como "social", para se fazer um sacramento. É "cultural" este desejo, não "espiritual". Não estamos sendo nada eficazes na evangelização porque simplesmente jogamos nossas sementes por aí... Esse pensamento de que "se salvar alguma já tá bom" me deixa doente...Porque muito tempo se perde, muito esforço, muita luta. Estamos enveredando por um caminho que não tá dando certo... e teimamos emc ontinuar nele!
Angela, amiga. Eu entendi perfeitamente o que vc quis dizer. Mas eu continuo achando que é preciso semear sempre. E semeando já estamos preparando o terreno. Talvez no momento o coração não esteja preparado para deixar a semente enraizar. Mas pode ficar ali e um dia fazer eco. NAO FOI ASSIM COM SANTO aGOSTINHO? e TANTOS OUTROS... pORTANTO SEMEEMOS.
ExcluiraH, PRECISO FAZER UM SELINHO PERSONALIZADO PARA O BLOG. vC SABE COMO SE FAZ? PODE ME EXPLICAR POR E-MAIL? Obrigada. Bjs. Fk com Deus.
Edite... continuo dizendo que não é por aí mais que se faz catequese... com crianças. Deveríamos estar fazendo com as famílias, com adultos. Os pais colocam as crianças na catequese exclusivamente por um compromisso cultural e social. Experimente, por exemplo, dizer a eles que seus filhos só receberão o sacramento quando estiverem preparados e a família estiver efetivamente participando da comunidade... E para fazer selinho vc teria que usar um programa tipo o Corel draw... ou outro editor de imagens...Se quiser me mande a sua idéia e faço pr
Excluira vc. Beijos.
Olá Angela...
ResponderExcluirQue desabafo!!!!!
Partilho com você que não foi por causa dos meus pais que estou hoje na Igreja, foi por causa da minha catequista. Muitas vezes temos que fazer o nosso trabalho e também o trabalho dos pais.
Seu foco como catequista infantil, não são os pais e sim a CRIANÇA, seja luz para elas já que elas não têm esta luz em casa, e não se culpe porque os pais não vão as reuniões, não vão a Missa... e quem disse que o trabalho seria fácil??????
É ótimo quando chegam crianças para nós já prontas, já sabendo rezar, educadas... mas a nossa missão são para as que nunca receberam esta formação. Jesus não veio para os sãos e sim para os doentes.
Pense nisso.
Grande abraco e Deus te guarde e te separe desta angústia.
Tenho só uma pergunta para fazer: porque Catequista AMADORA?
Luciana Dias
Luciana, obrigado pelas palavras de carinho.
ExcluirMas meu foco como catequista NÃO SÃO "AS CRIANÇAS"... não acho que devemos trabalhar esta missão com "foco" em alguma faixa etária... Jamais trabalhei assim. Evangelizar é muito mais que se encontrar com um grupo de crianças uma vez por semana e esperar que alguma coisa que você diga, entre no coração delas e que lá, num futuro incerto e distante, elas lembrem de alguma coisa... Se você não envolve a família na comunidade, não faz destas crianças verdadeiros participantes dela, seu trabalho será em vão... Se existe algum foco em nossa missão, este deve ser A FAMILIA como um todo... E vou me angustiar sempre que encontrar estas e outras dificuldades... rsrsrsr... Faz parte dos meus anseios, faz parte da missão... pois como vc lembrou, os sãos não precisam de médico, são os doentes. Nosso problema é que queremos curar a tosse de um dando remédio pro outro... No caso, as crianças, que, invariavelmente, estão ali meramente por não ter escolha...
Olá Ângela,
ResponderExcluirRealmente, fica claro que muitas crianças estão na catequese por um tipo de obrigação cultural, e isso muitas vezes nos causa desânimo e tristeza. No entanto, Jesus com seu Imenso Amor nos fortalece a cada dia, nos ensinando maneiras de aproximação com estas crianças e suas famílias. infelizmente muitos serão os chamados e poucos os escolhidos. Enquanto não for modificada nossa doutrina catequética, temos que lutar com o que temos... Amor, paciência, persistência, compromisso e acima de tudo, muita fé que tudo dará certo, porque Deus esta a nossa frente.
Um beijo grande em seu coração e muita paz!!!! Agradeço a Deus sempre, por existirem pessoas como você!!
Em 2012! Estou aqui na Igreja esperando pelas crianças para o encontro da catequese. E seu texto expressou de forma pontual tudo que sinto. Seu texto 10 anos depois continua refletindo a realidade.
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