Homilia da Epifania do Senhor


Epifania significa a manifestação de Deus. O Senhor nos ama, fez-se carne e veio morar entre nós. Deseja que todos o conheçam, que todos o amem, quer se mostrar a todos. O menino na manjedoura de Belém é o início de uma nova etapa da manifestação de Deus a humanidade. Deus se manifesta a quem? Quem o percebe? Quem o encontrará?

Primeiramente, na Festa da Epifania, percebemos algo extraordinário e de certo modo desconcertante: Deus se manifesta a todos, sem distinção. Na primeira leitura vemos povos de várias para adorar o Senhor. Os magos são homens sábios de nações estrangeiras. Se os sábios do povo eleito tardaram em reconhecê-lo, os estrangeiros vieram adorar o Senhor!

Seria muito mesquinho nos considerarmos um grupinho de escolhidos e salvos. Deus tem um caminho para cada pessoa, independente do seu credo, da sua cor, da sua raça, da sua classe social. Muitos não estão em nossas igrejas e outros nem creem no Cristo. De algum modo, Deus também tem um plano para eles, Deus se manifesta a eles, e também estes têm acesso a salvação. Nossa missão é ser luz, como Jerusalém, a Cidade Santa que brilha a luz do Senhor para todos os povos: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu a glória do Senhor.” (Is 60,1). Será a nossa Igreja a lua que irradia a luz do Sol que é Cristo? Como agimos diante dos que não frequentam nossos templos? Como agimos diante daqueles que são indiferentes? E diante daqueles que não creem como nós? Não é nossa missão “convertê-los” a força, mas sim nos transformarmos em manifestação (epifania) do amor misericordioso de Deus que acolhe a todos. Ainda muitos estão excluídos da vida da própria Igreja. Antes de nos acomodarmos como “os salvos”, devemos nos questionar e procurar fazer de nossa comunidade e de nossos grupos, espaços mais acolhedores. É nossa missão nos abrirmos a todos, a amarmos a todos sem distinção, sem julgar previamente, sem considerar alguém como não merecedor da graça do Cristo.

A Festa da Epifania também nos ensina que Deus se manifesta a quem sabe se colocar a caminho. Os magos vieram do Oriente, caminharam longas distâncias, enfrentaram a dureza de Herodes e o pó da estrada. Foram eles o sinal do povo que caminha, que é peregrino pelas estradas da vida. Ser cristão exige caminhar, sair, desestabilizar-se. É muito comum encontrarmos pessoas acomodadas em sua vida, estacionadas nos seus hábitos, na sua maneira de pensar. Sair exige ousadia. A ousadia de não saber onde se encontra a perdida Belém. Realmente é mais fácil ficar em casa, não se abrir aos outros, não aderir a novas e necessárias convicções, não tentar mudar de vida, não se converter... Estaríamos, nós, estacionados em alguma dimensão da vida? Nosso caminho não para, pois mira a Eternidade.

Mas os magos não andaram sem direção. A estrela guiava caminho deles. Eles tinham um norte, tinham uma guia. Deus não deixa ninguém perdido. Quando perderam a estrela, perderam o sentido, sentiram-se confusos, pararam para perguntar a Herodes. Mas de repente a estrela reapareceu: “Ao verem a estrela, os magos sentiram uma grande alegria” (Mt 2,10). Quando nós perdemos a estrela que nos guia, vamos ao lugar errado. Quantas vezes perdemos a estrela: aquela voz divina que nos guia, aquelas convicções mais profundas, aquela fé originária que nos remonta ao que há de mais puro dentro de nós... Perdemos a estrela, perdemos o sentido e andamos em caminhos tortuosos. Esta estrela brilha, tenha certeza. Deus se manifesta por meio de sinais visíveis, no nosso cotidiano: as pessoas, os amigos, o sacerdote, as lideranças, os acontecimentos, a Palavra, os ensinamentos divinos, os sacramentos, a comunidade...

Quando os magos viram a estrela, se encheram de alegria. Nós precisamos encontrar a estrela que nos guia, reencontrando a alegria de seguir o caminho certo, o caminho que nos torna felizes, o caminho que chega até a desprezada Belém onde se prostra o pobre Jesus no meio dos animais e dos pastores na estrebaria. A estrela vai nos levar a caminhos inusitados, fazendo-nos mudar o coração e abrir-se a simplicidade e a pobreza que nos faz encontrar o Senhor.
Coloque-se a caminho! Siga a estrela! Não desista de caminhar! Encontre o Cristo e o adore! Ofereça os seus presentes! Ele não precisa de ouro, nem de incenso, nem de mirra... Ele não precisa de nada, na verdade, mas aceita o seu coração renovado no início deste ano. “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16).

Pe. Roberto Nentwig

"Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força!"
(2Cor 12,9)

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